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Cap rate: o que é e como esse indicador funciona?

  • Lislye Viana 
  • 11 min read

O cap rate é um indicador utilizado para analisar o retorno de um investimento em imóveis. Ele permite estimar o quanto um imóvel pode gerar de receita em relação ao valor investido na sua aquisição. É uma métrica comum no mercado imobiliário e usada tanto por investidores quanto por profissionais da área.

A fórmula do cap rate é simples e envolve apenas dois dados: a renda anual do imóvel e seu valor de mercado. Mesmo assim, a interpretação dos resultados exige atenção, já que o indicador não considera todos os fatores que podem impactar o investimento.

Neste artigo, você verá o que é o cap rate, como ele funciona, suas limitações e como aplicá-lo ao avaliar imóveis.

O que é o cap rate?

Cap rate é a abreviação de capitalization rate, que traduzimos como taxa de capitalização. Os profissionais do setor imobiliário usam esse indicador para estimar o retorno anual de um imóvel com base na receita líquida de aluguel que ele gera. A ideia relaciona o valor que o investidor aplicou na compra do imóvel com a receita anual que ele produz.

A fórmula usada para o cálculo é simples: cap rate = receita líquida anual / valor de aquisição do imóvel. A receita líquida considera o valor bruto dos aluguéis, subtraindo custos recorrentes como impostos, seguros e manutenção. O objetivo é obter uma medida percentual que permita a comparação entre diferentes imóveis ou investimentos.

Como o cap rate é calculado?

O cap rate é calculado dividindo a receita líquida anual do imóvel pelo valor de aquisição ou valor de mercado do bem. A fórmula básica é:

Cap rate = Receita líquida anual / Valor do imóvel.

A receita líquida anual corresponde à soma dos aluguéis recebidos em um ano, descontadas as despesas operacionais.

Entre essas despesas, podem estar incluídos impostos, seguros, custos com manutenção e taxas de administração, se aplicável. O valor do imóvel pode ser aquele pago na aquisição ou o valor de mercado atual, dependendo do objetivo da análise.

Como funciona o cap rate?

Interpretação do resultado

O resultado é uma porcentagem. Essa taxa representa o retorno anual sobre o valor investido no imóvel, considerando apenas os rendimentos obtidos com aluguel. Por exemplo, um índice de 6% indica que o imóvel gera uma receita líquida equivalente a 6% do seu valor total por ano.

Essa porcentagem serve como referência para avaliar se um investimento é proporcionalmente mais rentável do que outro. Quanto maior o índice, maior tende a ser o retorno anual obtido com a locação, sem considerar valorização do ativo ou custos pontuais não recorrentes.

Uso na comparação de imóveis

O cap rate permite a comparação entre diferentes imóveis com base no rendimento que proporcionam. Mesmo imóveis com preços distintos podem ser comparados usando essa taxa, desde que os dados de receita líquida e valor do imóvel estejam atualizados e corretamente apurados.

Essa prática é comum entre investidores que analisam diversas oportunidades e precisam de um critério objetivo para fazer triagens. O índice ajuda a identificar quais imóveis têm maior potencial de retorno com base na renda gerada.

Limitações do funcionamento

Apesar de útil, o cap rate não capta todos os aspectos envolvidos na decisão de investimento. Ele não considera fatores como vacância, inadimplência, valorização futura, variação cambial (no caso de ativos no exterior) ou condições específicas do contrato de locação.

Além disso, o cap rate não reflete o custo de capital do investidor, ou seja, ele não considera se o investidor comprou o imóvel à vista ou financiado. Quando o investidor financia a compra, as prestações ou os juros pagos podem reduzir o rendimento líquido efetivo.

Importância do contexto

O funcionamento do cap rate depende do contexto em que ele é aplicado. Um cap rate considerado bom em uma cidade pode ser baixo em outra, dependendo da liquidez, da oferta e demanda por imóveis e do nível de risco percebido pelos investidores. 

Cap rate e os FIIs: como fazer o cálculo?

O cap rate foi originalmente concebido para analisar imóveis físicos, mas pode ser adaptado para avaliar fundos imobiliários (FIIs). A diferença principal está na natureza do investimento. Enquanto o imóvel é um ativo direto, o FII é uma aplicação financeira que representa participação em diversos imóveis ou projetos. Isso implica ajustes na forma de cálculo, embora a lógica permaneça próxima.

Nos imóveis físicos, o investidor calcula o índice com base na receita líquida anual do aluguel e o valor do imóvel. Nos FIIs, os gestores distribuem o rendimento mensal aos cotistas, que substitui a receita líquida, e utilizam o preço da cota no lugar do valor do imóvel.

Fórmula adaptada

A fórmula do cap rate para fundos imobiliários pode ser expressa da seguinte forma:

= Rendimento anual por cota / Preço da cota

Para aplicar a fórmula, é necessário somar os rendimentos mensais recebidos por uma cota ao longo de 12 meses e dividir esse total pelo preço atual da cota. Isso fornece uma taxa que representa o retorno anual do FII em relação ao capital investido.

Esse cálculo não exige a dedução de despesas operacionais, pois essas já são geridas pelo administrador do fundo e impactam diretamente os valores distribuídos.

Escolha do preço da cota

O preço da cota utilizado no cálculo pode variar conforme o objetivo da análise. Para avaliar o retorno atual de mercado, utiliza-se o preço da cota negociado na bolsa. Se o investidor quiser analisar a própria rentabilidade, pode considerar o preço médio de aquisição das cotas em carteira.

Essa distinção é importante porque o cap rate pode variar significativamente dependendo do ponto de entrada no investimento. Um fundo que distribui R$ 1,00 por mês terá cap rate de 10% se a cota for comprada por R$ 120,00, mas de 8% se adquirida por R$ 150,00.

Relação com o dividend yield

O cap rate calculado para FIIs é, na prática, o mesmo que o dividend yield, já que ambos expressam o retorno sobre o valor da cota com base nos rendimentos periódicos. A diferença é mais conceitual do que prática. O termo “cap rate” costuma ser mais comum no setor imobiliário tradicional, enquanto “dividend yield” é mais utilizado no mercado financeiro.

Apesar disso, ao avaliar fundos imobiliários com foco em geração de renda, o cap rate pode ser uma métrica complementar, especialmente quando o investidor está acostumado a avaliar imóveis físicos e deseja fazer uma ponte entre os dois tipos de ativos.

Cuidados na comparação

Ao usar o cap rate para comparar fundos imobiliários, é necessário observar a regularidade dos rendimentos, a consistência da gestão e a previsibilidade das receitas. Fundos com rendimentos muito altos podem estar distribuindo recursos não recorrentes ou passando por momentos específicos, o que pode distorcer o cálculo.

Por isso, recomenda-se considerar uma média dos rendimentos dos últimos 12 meses e investigar os relatórios gerenciais dos FIIs para verificar a origem da distribuição. Só assim o cap rate poderá ser utilizado com mais precisão no processo de análise.

Limitações do cap rate

Não considera valorização do imóvel

O cap rate se baseia apenas na relação entre o rendimento gerado pelo imóvel e o seu valor de aquisição ou de mercado. Isso significa que ele não leva em conta possíveis ganhos com a valorização do bem ao longo do tempo. Para investidores que buscam retorno total, incluindo tanto o fluxo de caixa quanto o potencial de valorização do ativo, o cap rate pode oferecer uma visão incompleta.

Ao ignorar a variação do valor do imóvel, o indicador pode levar a decisões que priorizam retornos imediatos em detrimento de ganhos futuros. Por exemplo, o investidor pode descartar um imóvel que apresenta renda atual baixa, mas tem alto potencial de valorização, ao basear sua análise apenas no cap rate, que ficará reduzido nesse caso — mesmo que o imóvel represente uma oportunidade interessante no longo prazo.

Desconsidera riscos específicos

O cap rate também não incorpora os riscos associados ao imóvel ou ao fundo. Fatores como inadimplência, vacância, localização, qualidade do inquilino, condições do contrato de locação e perfil do gestor, no caso dos FIIs, não refletem diretamente no cálculo. Dois ativos com cap rates semelhantes podem apresentar níveis de risco bastante distintos, o que pode comprometer a comparação direta entre eles.

Essa limitação torna importante complementar o uso do cap rate com uma análise mais ampla, que inclua avaliação qualitativa e outros indicadores financeiros. Considerar apenas a taxa isoladamente pode levar à escolha de ativos com retorno aparente elevado, mas com problemas estruturais.

Base histórica pode distorcer o resultado

Outro ponto a ser observado é que o cap rate é geralmente calculado com base nos rendimentos passados e no valor atual do ativo. Quando há variações recentes nas receitas ou no preço do imóvel, ou da cota, o indicador pode não refletir a realidade atual ou futura da operação. Isso ocorre especialmente em momentos de transição, como reajustes contratuais, renegociações ou mudanças na ocupação.

Além disso, se o investidor utilizar apenas dados pontuais, como o último rendimento pago, o cap rate pode ser artificialmente alto ou baixo, dependendo de eventos específicos daquele período. O ideal é trabalhar com médias representativas e analisar a estabilidade das receitas ao longo do tempo.

Diferenças regionais e de segmento

O cap rate também varia conforme a localização do imóvel e o segmento do mercado imobiliário. Imóveis comerciais, residenciais, industriais ou logísticos podem operar com faixas distintas de cap rate. O mesmo vale para regiões metropolitanas e cidades de menor porte, onde o risco e a demanda imobiliária são diferentes.

Comparar imóveis ou FIIs sem considerar o contexto pode gerar interpretações equivocadas. Um cap rate mais alto em determinada região pode refletir um risco maior de vacância ou menor liquidez do mercado, e não necessariamente uma rentabilidade superior.

Não substitui uma análise completa

Por fim, os investidores devem entender o cap rate como uma métrica pontual, útil para estimar a relação entre a renda gerada e o valor investido, mas com limitações quando usada isoladamente. Eles podem usá-lo como ponto de partida para analisar ativos imobiliários, mas precisam complementar essa análise com outras ferramentas, como o fluxo de caixa descontado, a análise de múltiplos, o estudo do mercado local e a avaliação dos fundamentos do fundo ou do imóvel.

O uso do cap rate como única base de decisão pode levar a uma visão simplificada do investimento. Uma abordagem mais ampla permite identificar melhor as oportunidades e os riscos envolvidos.

Conclusão

O cap rate é uma métrica amplamente utilizada para avaliar a relação entre o rendimento gerado por um imóvel e seu valor de aquisição ou de mercado. Ele ajuda a estimar o retorno potencial de um investimento imobiliário de forma simples e direta.

Apesar de sua utilidade, o indicador apresenta limitações. Não considera fatores como valorização do imóvel, riscos específicos, instabilidades no fluxo de receita e diferenças regionais. Por isso, deve ser interpretado com cuidado e utilizado em conjunto com outras análises.

Compreender o cap rate e seus limites permite tomar decisões mais consistentes na hora de avaliar imóveis ou fundos imobiliários. Ele não substitui uma avaliação completa, mas pode ser um ponto de partida útil na comparação entre diferentes alternativas.

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