Quando se trata de dívidas de longo prazo, a amortização pode ser uma aliada no planejamento financeiro familiar.
Financiar um carro, uma casa ou contratar um crédito de longo prazo, pagar as parcelas durante anos e, após algum tempo, perceber que a dívida ainda é maior do que se pensava. Como acontece com milhões de brasileiros, talvez você já tenha enfrentado essa situação e se surpreendido, mesmo sem nunca ter atrasado uma parcela. Para lidar com esse tipo de problema, a amortização pode ser uma solução eficaz.
A situação pode ficar ainda mais confusa quando dois contratos possuem valor financiado, taxa e prestações idênticas, mas apresentam valores diferentes para quitação total. Ou seja, mesmo iguais nesses três aspectos, um dos contratos pode acabar saindo mais caro que o outro.
Isso ocorre devido ao conceito de amortização, essencial quando o tema é endividamento. Preparamos este conteúdo para esclarecer como a amortização funciona, como você pode aplicá-la e outros pontos importantes para evitar surpresas no seu planejamento financeiro, especialmente se você estiver considerando financiar um bem ou tomar um empréstimo pessoal.
O que é amortização?
Frequentemente amortizar se confunde com pagar uma dívida regularmente. No entanto, isso nem sempre ocorre quando quitamos parcelas de um financiamento, pois amortizar uma dívida significa reduzi-la ao longo do tempo.
À primeira vista, pode parecer óbvio que os pagamentos diminuam uma dívida, certo? Mas, para eliminá-la por completo, é necessário quitar tanto o valor principal quanto os encargos do financiamento. Do contrário, a dívida nunca acaba.
Na prática, um exemplo comum e fácil de entender sobre amortização é quando poupamos dinheiro para adiantar parcelas de um financiamento imobiliário. Normalmente, esse tipo de financiamento é de longo prazo, podendo durar mais de 30 anos em alguns casos. No entanto, ao adiantar o total do financiamento, você também diminui o valor final que pagará. Essa é a principal vantagem da amortização em contratos de crédito.
Como funciona a amortização?
A parcela de um empréstimo ou financiamento inclui três elementos principais:
1. Principal: o montante inicial que você empresta e precisa devolver à instituição financeira.
2. Juros: o custo pelo uso do dinheiro durante o período do empréstimo.
3. Outros custos: esse item varia conforme o tipo de crédito. Em um financiamento imobiliário, por exemplo, além dos juros, há custos adicionais com seguros, como os de morte, invalidez e danos ao imóvel, que também integram as parcelas.
Como vimos, amortizar um financiamento significa quitá-lo completamente. Você pode fazer isso antecipando algumas parcelas e pagando o restante conforme o método de amortização definido no contrato.
A seguir, abordaremos um conceito importante relacionado à amortização em mais detalhes.
Quais são os tipos de amortização?
Os principais tipos de amortização disponíveis no mercado de crédito são o Sistema PRICE e o Sistema de Amortização Constante. A principal diferença entre eles está na maneira como os juros cobram, o que afeta o valor total que você pagará. Vamos entender como cada um desses sistemas funciona.
Sistema PRICE
Conhecido também como tabela PRICE, esse sistema estabelece parcelas de valor fixo durante todo o período do financiamento.
No início dos pagamentos, a proporção da parcela destinada aos juros é maior do que a destinada ao principal, resultando em uma amortização da dívida menor nos primeiros meses. Com o tempo, à medida que o saldo devedor diminui, a amortização começa a aumentar.
Quando comparado ao SAC, que abordaremos a seguir, esse modelo de amortização é mais previsível, uma vez que as parcelas são iguais. Além disso, você paga prestações iniciais menores, o que pode ser vantajoso se preferir destinar um valor reduzido do orçamento. No entanto, os juros são mais altos, devido à menor amortização do principal no começo dos pagamentos.
Sistema de Amortização Constante (SAC)
Como o nome sugere, no SAC a amortização do financiamento permanece constante em todas as parcelas. Isso implica que o sistema cobra prestações iniciais mais elevadas, pois inclui tanto a amortização quanto os juros sobre o principal.
Diferentemente do sistema anterior, as prestações diminuem com o tempo. Com a amortização constante nas parcelas, os juros incidem sobre um principal cada vez menor, levando a uma redução mais rápida do valor total da dívida. Por isso, quem escolhe o Sistema de Amortização Constante paga menos juros em comparação ao Sistema PRICE.
Além disso, se o consumidor tiver a possibilidade de antecipar algumas parcelas, a diferença no total da dívida pode ser ainda maior. Portanto, recomenda-se o SAC para quem deseja ter desembolsos menores ao longo dos anos.
Outros Tipos de Amortização
Além das duas formas principais de amortização, existem outras opções menos comuns que podem surgir em algumas negociações, conforme detalharemos a seguir.
Sistema de Amortização Misto (SAM)
O Sistema de Amortização Misto combina elementos do SAC e da tabela PRICE, resultando em uma média das prestações de ambos os sistemas. No SAM, as parcelas não são fixas como no sistema PRICE, mas sua variação é menor do que no SAC ao longo do período do financiamento.
Os financiamentos imobiliários que se enquadram nas regras do Sistema Financeiro Habitacional (SFH) frequentemente utilizam esse formato, pois ele oferece a vantagem de parcelas menores em comparação ao SAC e juros inferiores aos do sistema PRICE.
Sistema Americano de Amortização (SAA)
No Sistema Americano de Amortização, existem duas formas de quitar o financiamento. Na primeira, você faz pagamentos periódicos de juros e do principal no vencimento; na segunda, você paga o total ao final do contrato, com os juros sendo capitalizados durante todo o período da dívida.
Esse tipo de amortização não é muito comum no mercado brasileiro e os credores geralmente o aplicam em situações específicas, quando o devedor espera receber uma quantia determinada de dinheiro em um determinado prazo.
Sistema de Pagamento Variável
Como o nome sugere, não existe uma regra única para esse tipo de amortização, pois o credor a ajusta de acordo com a capacidade de pagamento do devedor. Nesse caso, exige-se que o devedor quite os juros da operação ao final de cada período.
Um exemplo comum de pagamento variável é o saldo rotativo do cartão de crédito. Dependendo da instituição financeira, a instituição estabelece um valor mínimo para a fatura, que já inclui os juros referentes ao mês em questão.
Como usar o FGTS para amortizar o financiamento imobiliário?
Além de ser utilizado para a compra ou construção de imóveis, o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) também pode servir para aliviar o orçamento de quem possui um financiamento imobiliário.
A Caixa Econômica Federal (CEF), responsável pela regulamentação desses recursos, informa que o trabalhador pode usar o saldo do FGTS para quitar totalmente ou amortizar esse tipo de dívida. Contudo, é necessário que já tenha se passado um intervalo de dois anos desde a última vez que o fundo foi utilizado para esse propósito. Portanto, se você já utilizou seu FGTS em um financiamento imobiliário, deverá aguardar esse período antes de usá-lo novamente.
Outra alternativa é utilizar o FGTS para abater parte das prestações, diminuindo assim o valor mensal a ser pago no financiamento. Nesse caso, o desconto pode ser de até 80% do valor das parcelas e por um período máximo de 12 meses consecutivos. Para determinar o novo valor da parcela, basta dividir o saldo do FGTS por 12 e subtrair esse montante da parcela atual, respeitando o limite de 80%.
Para ilustrar, considere o seguinte exemplo:
– Valor da parcela: R$ 2.000
– Saldo do FGTS: R$ 50.000
O cálculo seria: R$ 50.000 / 12 = R$ 4.166,67. Como as regras de uso do fundo estabelecem um limite de 80% para a redução da parcela, o valor máximo a ser deduzido seria de R$ 1.600 (R$ 2.000 x 80%). Assim, a nova parcela ficaria em R$ 400 durante 12 meses.
Regras para a Utilização do FGTS
Para que os recursos do fundo possam ser empregados na aquisição de imóveis ou na amortização do respectivo financiamento, tanto o comprador quanto o imóvel devem atender a determinadas condições. Veja quais são elas:
Regras para o Comprador
– Ter trabalhado sob o regime do FGTS por pelo menos três anos (consecutivos ou não).
– Não possuir outro financiamento ativo no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) em nenhuma localidade do país.
– Não ter outro imóvel na cidade em que reside ou trabalha.
Regras para o Imóvel
– O valor de avaliação deve ser de até R$ 1.500.000.
– O imóvel deve ser residencial e destinado à moradia do titular do financiamento (imóveis rurais e comerciais não são elegíveis para uso do FGTS).
– Não pode haver pendências na matrícula do imóvel relacionadas a dívidas do vendedor.
– O proprietário do imóvel também não pode ter restrições cadastrais ativas devido a problemas de crédito.
– O FGTS não deve ter sido utilizado nos últimos três anos para a aquisição do imóvel.
É melhor amortizar saldo devedor ou parcelas?
A escolha entre as opções de uso do FGTS dependerá da situação financeira e dos objetivos de cada pessoa.
Por exemplo, se a prioridade for aliviar o orçamento familiar, reduzir o valor das parcelas pode ser uma solução vantajosa. Isso proporciona 12 meses com desembolsos menores, o que pode ser muito útil para quem busca reequilibrar as finanças.
Por outro lado, aqueles que têm uma situação financeira mais estável podem optar por amortizar o saldo devedor, diminuindo assim o prazo de pagamento. Essa estratégia pode resultar em ganhos significativos a longo prazo.
Como fazer a amortização do financiamento imobiliário com o FGTS?
O primeiro passo é verificar o saldo disponível na conta do FGTS para saber quanto pode ser utilizado para amortizar a dívida ou reduzir as parcelas. Em seguida, a solicitação pode ser realizada por meio do App Habitação Caixa ou pelos canais de atendimento da instituição financeira.
Para aqueles que ainda não utilizaram o saldo do fundo no contrato, a orientação da Caixa Econômica Federal (CEF) é que sejam apresentados os seguintes documentos em uma agência ou correspondente bancário:
– Documento de identificação oficial;
– Extrato do FGTS;
– Carteira de trabalho (para comprovar o tempo mínimo de trabalho exigido);
– Declaração de Imposto de Renda, e, se o trabalhador for casado ou estiver em união estável, também será necessário apresentar a declaração do cônjuge.
Como amortizar empréstimo consignado?
De maneira geral, a amortização de um empréstimo consignado é um processo simples. Para quitar uma ou mais parcelas (ou até mesmo toda a operação), é necessário entrar em contato com o agente financeiro responsável pelo contrato de crédito e solicitar a quitação.
Cada instituição financeira tem seus próprios procedimentos, portanto, algumas podem ser mais rápidas do que outras em fornecer uma resposta. Normalmente, o boleto para o pagamento da dívida é enviado em poucos dias, e algumas instituições podem até enviá-lo no mesmo dia da solicitação.
Além do boleto, é fundamental que a instituição forneça também informações como o saldo atualizado, a taxa de juros, o valor das parcelas (tanto o original quanto o com desconto para antecipação) e o prazo restante do empréstimo, caso a quitação não seja integral. Esses dados são essenciais para entender a economia gerada pela antecipação dos pagamentos.
Texto retirado do artigo da Infomoney: Amortização: o que é, como funciona para financiamentos ou empréstimos