Você já se perguntou como os bancos ganham dinheiro? Muitas pessoas já tiveram essa dúvida, e a resposta vem em um termo simples: spread bancário!
Ainda que pareça um termo complexo, entender o spread bancário é simples e deixa um pouco mais claro como é a lógica de funcionamento de uma das partes mais importantes do mercado financeiro: as instituições bancárias tradicionais e os investimentos ligados a elas.
O spread bancário tem tudo a ver com os juros cobrados que você paga quando precisa de um empréstimo e com quanto você lucra quando decide investir. Portanto, entender o que é spread bancário é essencial para quem quer aprofundar nesse mercado.
O que é spread bancário?
O spread bancário é a diferença entre o que o banco paga a um poupador ou investidor para obter seus recursos, e quanto o banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro para pessoas e empresas.
Imagine que você é o dono de uma loja de roupas. Para ter lucro, você precisa vender as mercadorias por preços maiores do que os de compra, certo? E é claro, no final das contas, para que o negócio continue sustentável, o dinheiro que a loja ganha com as vendas precisa ser o suficiente para suprir as despesas variadas, pagar seus funcionários e, ainda, conseguir ter lucro com seu negócio. Se esse lucro não existisse, não valeria a pena a manutenção da sua loja aberta.
Por isso, se as mercadorias são compradas por um preço X, precisam ser vendidas por um preço Y. Essa é a mesma relação entre um banco, seus investidores, e pessoas e empresas que utilizam seu serviço de empréstimos — e é a ela que se dá o nome de spread bancário.
Como o spread bancário é calculado?
O spread no mercado financeiro é calculado com uma fórmula bastante simples: é a diferença entre a taxa de captação média e a taxa de empréstimo média daquele mesmo ano.
Spread bancário = [taxa de empréstimo] – [taxa de captação]
Para ficar ainda mais claro, vamos agora utilizar a fórmula do spread bancário em um exemplo prático.
Como calcular o spread bancário
Vamos supor que você, como investidor, deixa seu dinheiro rendendo na poupança a uma taxa de 6% ao ano. O banco, coletando esse dinheiro e lhe remunerando esses 6%, empresta o seu dinheiro para financiar um projeto de um empresário, cobrando a ele uma taxa de empréstimo de 20% ao ano. O spread bancário, nesse caso, é igual a:
Spread bancário = [taxa de empréstimo] – [taxa de captação]
= 20% – 6%
= 14%
Ou seja, nesta relação entre você (investidor), o banco e o empresário, o banco lucraria um total de 14% ao ano. Um valor consideravelmente alto!
Essa taxa é costumeiramente tão alta porque, segundo a lógica dos bancos, por conta do risco de crédito que ele corre ao liberar o empréstimo, ele precisa cobrar juros altos, calculados a partir de variáveis como a taxa de inadimplência e custos administrativos.
E, é claro, assim como no exemplo da loja, os bancos também precisam ter um certo lucro com essas transações, se não, não valeria a pena trabalhar com empréstimos.
Qual é a composição do spread bancário?
Existem vários outros conceitos e taxas que compõem o spread bancário. Assim como vimos no tópico anterior, essa taxa de lucro que o banco ganha com as relações que mantém de investimento e empréstimo gira em torno de outras taxas que, quando relacionadas, levam ao cálculo do spread.
Isso acontece porque, se voltarmos ao exemplo da loja, o banco ainda precisa ter uma margem de lucro após quitar todos esses custos.
Custo administrativo
Em primeiro lugar, o spread funciona de forma a ajudar a arcar com os custos de um banco, tendo em vista que representam uma das suas principais fontes de receitas. Ou seja, os spreads arcam com seus custos administrados, como os referentes aos salários e despesas com funcionários que os bancos têm.
Compulsório, FGC e encargos fiscais
Com o objetivo de controlar o dinheiro que está em circulação na economia, o Banco Central retém parte dos depósitos captados pelos outros bancos. Boa parte desse recurso apreendido pelo BC vai para o Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Impostos diretos
O Imposto de Renda (IR), o Imposto sobre Operação Financeira (IOF), o Programa de Integração Social (PIS), o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) têm peso na hora da formação do spread bancário e, portanto, impactam em seu valor.
Inadimplência
São inadimplentes as pessoas ou instituições que não retornam ao banco o dinheiro que este cedeu em forma de empréstimo. Por conta do risco de não receber de volta o recurso emprestado, a taxa de inadimplência tem grande peso na hora do cálculo do spread bancário.
Lucros
Esta variável representa a parcela do spread bancário que fica no banco, transformando-se em lucro para seus acionistas.
É importante ressaltar, porém, que cada um dos valores citados acima possuem pesos diferentes na composição do spread. Por exemplo, o custo administrativo tem um impacto bem menor do que a inadimplência no valor final do spread.
Agora que você já sabe a composição do spread bancário, vamos buscar entender porque o spread brasileiro é tão grande e o que é possível ser feito para que o valor dele abaixe.
Por que o spread bancário é tão alto no Brasil?
O spread bancário no Brasil tem sido tradicionalmente alto, influenciado por uma combinação de fatores complexos.
História do país
Em primeiro lugar, o país enfrenta desafios econômicos históricos, como instabilidade econômica e inflação, o que aumenta o risco para as instituições financeiras. Esse risco é muitas vezes repassado aos clientes por meio de spreads mais elevados.
Ambiente regulatório
Além disso, o ambiente regulatório no Brasil é conhecido por sua complexidade e custos operacionais substanciais para os bancos. Requisitos de capital, regulamentações rigorosas e despesas relacionadas à conformidade contribuem para a elevada carga operacional.
Ademais, a inadimplência também é um fator significativo, com custos associados à recuperação de crédito e gerenciamento de riscos que influenciam os spreads.
Concentração bancária
A concentração bancária, com poucos grandes bancos dominando o mercado, reduz a concorrência e pode permitir que os bancos mantenham spreads mais altos. Além disso, a carga tributária no Brasil é considerável, impactando diretamente os custos operacionais das instituições financeiras.
Custo do crédito
O custo do crédito, determinado em parte pelas taxas de juros estabelecidas pelo Banco Central, influencia diretamente os spreads bancários. Se o custo do dinheiro emprestado pelos bancos for alto, isso se reflete nos spreads. A questão do custo de captação de recursos também é relevante, com o custo do funding impactando as taxas praticadas pelos bancos.
Dinâmicas de concorrência e precificação
A falta de concorrência efetiva ou práticas de precificação que permitem margens de lucro mais amplas também são apontadas como fatores que contribuem para spreads bancários elevados no Brasil.
Mudanças nessas dinâmicas podem ocorrer em resposta a desenvolvimentos econômicos, regulatórios e estruturais, incluindo iniciativas governamentais para aumentar a concorrência no setor financeiro. Essas mudanças podem ter impactos significativos nos spreads bancários ao longo do tempo.
Como reduzir o spread bancário no Brasil?
No cenário brasileiro, diversas medidas e propostas têm sido discutidas e implementadas com o objetivo de reduzir o elevado spread bancário. Essa preocupação reflete a busca por maior eficiência, transparência e competição no setor financeiro, visando beneficiar tanto os consumidores quanto a economia como um todo.
1. Iniciativas governamentais
Medidas como a simplificação regulatória e a criação de condições mais favoráveis para a entrada de novos players no mercado são discutidas para estimular a competição e pressionar os bancos a oferecerem spreads mais competitivos.
2. Tecnologia e inovação
A ascensão das fintechs tem contribuído para o aumento da concorrência no setor financeiro. O governo tem apoiado iniciativas que fomentam a inovação tecnológica, buscando criar um ambiente propício para o surgimento de soluções financeiras mais eficientes e acessíveis.
3. Educação financeira
Reconhecendo a importância da educação financeira, campanhas e programas podem ser implementados para conscientizar os consumidores sobre as práticas bancárias, incluindo a compreensão do cálculo do spread. Consumidores mais informados têm mais poder de barganha e podem pressionar por serviços financeiros com taxas mais justas.
4. Transparência
Propostas para regulamentar a divulgação clara e acessível das taxas e componentes que compõem o spread bancário visam empoderar os clientes, permitindo que façam escolhas mais informadas e pressionem por maior competitividade.
5. Acesso ao crédito
Iniciativas para facilitar o acesso ao crédito, especialmente para pequenas empresas e consumidores de baixa renda, estão em discussão. A ampliação do acesso pode diminuir o poder de barganha dos bancos, contribuindo para a redução dos spreads.
6. Políticas Monetárias
Mudanças nas políticas monetárias, com ajustes na taxa básica de juros, são consideradas como forma de influenciar os custos de captação dos bancos.
Ademais, uma taxa básica de juros mais baixa poderia impactar positivamente na redução do spread bancário.
7. Cooperação Internacional
O Brasil tem buscado aprender com experiências internacionais e cooperação com organizações financeiras globais para identificar melhores práticas que possam ser aplicadas localmente. Isso inclui a análise de modelos de regulação e práticas adotadas em outros países com spreads mais baixos.
Além disso, essas medidas e propostas refletem um esforço conjunto para enfrentar os desafios que contribuem para o spread bancário elevado no Brasil.
Conclusão
Em conclusão, a questão do spread bancário no Brasil é multifacetada, refletindo uma interconexão complexa de fatores econômicos, regulatórios e estruturais.
Além disso, as medidas e propostas discutidas apontam para uma busca contínua por soluções que possam promover maior eficiência, transparência e concorrência no setor financeiro.
O papel crucial da tecnologia, a importância da educação financeira, e a necessidade de políticas governamentais que incentivem a competição emergem como pilares para a construção de um ambiente financeiro mais equitativo e favorável aos consumidores.
Ademais, à medida que o Brasil avança nesse processo, o equilíbrio entre os interesses dos bancos e a proteção dos consumidores permanece um desafio essencial para alcançar uma evolução positiva no cenário do spread bancário.
Achei muito interessante