COE, ou Certificado de Operações Estruturadas, é um tipo de investimento que combina características de renda fixa e variável em um único produto. Com ele, o investidor tem a oportunidade de diversificar sua carteira ao acessar mercados e estratégias que geralmente seriam de difícil acesso individualmente.
O funcionamento do COE se baseia em uma estrutura que oferece potencial de ganho, mantendo uma parte ou a totalidade do capital protegido, dependendo do tipo de certificado escolhido. Dessa forma, é possível alinhar o perfil de risco do investidor às condições específicas de cada COE.
Para decidir se vale a pena investir em COEs, é importante conhecer como eles se encaixam nos objetivos financeiros e entender os fatores de risco e retorno envolvidos. Este artigo explora o funcionamento desses certificados e aponta aspectos relevantes para avaliar sua adequação ao portfólio de investimentos.
O que é COE?
COE, ou Certificado de Operações Estruturadas, é um tipo de investimento que combina elementos de renda fixa e renda variável, permitindo que o investidor participe de estratégias complexas de mercado com certa previsibilidade e, em alguns casos, proteção de capital.
O produto entrou no Brasil em 2014, inspirado em estruturas similares encontradas no exterior, como os structured notes nos Estados Unidos. Bancos e instituições financeiras emitem o COE, que tem como base ativos diversos, podendo incluir ações, índices de mercado, moedas, commodities, entre outros.
Como funciona?
A estruturação do funcionamento do COE é feita por meio de uma combinação de derivativos e outros ativos financeiros. Basicamente, o banco emissor utiliza os recursos dos investidores para construir uma estratégia que busca entregar um retorno pré-definido. Existem dois tipos principais de COE: o COE com capital protegido, que assegura a devolução do valor inicial investido ao final do período, mesmo que o desempenho dos ativos vinculados não seja positivo, e o COE com capital em risco, onde o investidor aceita o risco de perder parte ou todo o capital investido em troca de uma possível rentabilidade maior.
É importante entender que o retorno do COE depende do desempenho dos ativos subjacentes e da estrutura definida pela instituição emissora. Caso os ativos atinjam as metas predefinidas, o investidor recebe o retorno estipulado. Caso contrário, o rendimento pode ser nulo ou, no caso de COE com capital em risco, pode haver perda do capital investido. Por isso, é essencial que o investidor compreenda detalhadamente os termos e condições de cada COE antes de decidir pela aplicação.
Emissão e registro
A emissão e o registro de um COE envolve uma série de etapas e requisitos regulamentares que visam garantir a transparência e a segurança do produto para os investidores. Instituições financeiras autorizadas, como bancos e corretoras, realizam o processo, desenvolvem as operações que compõem o COE e definem os ativos subjacentes, os riscos e a estrutura de pagamento do certificado. Essas instituições também são responsáveis pela documentação e pela comunicação das condições do COE, detalhando sua mecânica e o potencial de retorno e de risco.
Definição da estratégia de investimento e composição do produto
Primeiramente, a instituição que deseja emitir um COE precisa definir a estratégia de investimento e a composição do produto. Criam essa estrutura com base em derivativos e outros ativos financeiros que servirão de referência para o desempenho do certificado. O banco emissor pode, por exemplo, vincular o COE ao desempenho de um índice de ações estrangeiro, a um conjunto de moedas, a commodities ou a uma combinação de ativos, conforme o perfil do produto. A definição desses ativos e da estratégia associada é uma etapa essencial para que o investidor saiba exatamente o que está comprando e quais são as possibilidades de retorno.
Processo de registro
Uma vez estruturado o COE, a instituição registra o processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Esse registro é obrigatório e visa regulamentar a oferta pública do produto, assegurando que a instituição emissora siga todas as normas e regulamentos aplicáveis. Durante essa etapa, é necessário que se submeta à CVM um documento detalhado, conhecido como “Termo de Informações Essenciais”. Esse termo descreve, de forma clara e objetiva, as principais características do COE, incluindo os ativos de referência, a data de vencimento, o tipo de proteção de capital (se houver), o cálculo de rentabilidade e os riscos envolvidos.
Comercialização
Após o registro na CVM, a instituição passa a poder oferecer o COE ao público. No entanto, a comercialização geralmente ocorre durante uma janela de oferta, um período específico em que os investidores podem adquirir o produto. Ao longo dessa oferta, a instituição emissora divulga as informações do COE para atrair potenciais investidores, ressaltando os ativos subjacentes e a possibilidade de rentabilidade conforme a estrutura da operação. Essa divulgação também inclui os custos envolvidos, como taxas de administração e eventuais impostos, para que o investidor tenha clareza sobre os custos da aplicação.
Tipos de COE
A rentabilidade do COE varia conforme a estrutura do produto e os ativos subjacentes utilizados na sua composição. Esse tipo de investimento oferece ao investidor a oportunidade de obter retornos com base no desempenho de diferentes índices, ações, moedas ou commodities, sem que ele precise investir diretamente nesses ativos. No entanto, é importante compreender que a rentabilidade do COE depende diretamente da performance dos ativos aos quais ele está atrelado, além das condições definidas pela instituição emissora.
Existem, em geral, dois tipos principais de COE: o COE com capital protegido e o COE com capital em risco. Cada um deles possui características próprias que influenciam diretamente o potencial de rentabilidade e o nível de segurança oferecido ao investidor.
COE com capital protegido
No COE com capital protegido, o investidor tem a garantia de que, ao final do período de investimento, receberá ao menos o valor inicialmente investido, independentemente do desempenho dos ativos subjacentes.
Nesse tipo de COE, a instituição financeira constrói uma estrutura que protege o capital principal, ao mesmo tempo que oferece a possibilidade de ganhos variáveis, caso o cenário planejado se concretize.
Esse tipo de COE geralmente indica-se para investidores que preferem preservar o capital, mas desejam expor uma parte de sua carteira a ativos de maior risco. Nesse caso, a proteção de capital limita a rentabilidade, pois reduz a exposição direta aos ativos de alto retorno.
COE com capital em risco
Por outro lado, o COE com capital em risco não oferece essa proteção, o que significa que o investidor pode perder parte ou a totalidade do valor aplicado, dependendo da performance dos ativos subjacentes.
Em contrapartida, o COE com capital em risco geralmente apresenta um potencial de rentabilidade mais elevado, já que não há custos envolvidos na proteção do capital.
Esse tipo de COE adequa-se mais a investidores com maior tolerância ao risco que buscam uma rentabilidade potencialmente superior.
A estrutura do COE com capital em risco permite que o investidor participe de cenários de mercado específicos e tenha a possibilidade de ganhos atrativos, porém sem garantir que o investidor receberá o valor investido de volta.
Rentabilidade de COE
A rentabilidade de um COE depende diretamente do desempenho dos ativos de referência e da forma como a instituição estrutura o produto. Muitos emissores criam COEs com base em cenários de alta, onde a rentabilidade depende da valorização dos ativos, mas também existem opções em que o retorno ocorre em cenários de baixa ou estabilidade de preço. Por exemplo, uma instituição pode estruturar um COE para gerar ganhos caso um índice de ações permaneça estável ou atinja determinados níveis durante o período de investimento.
Além dos tipos de COE, a rentabilidade também depende dos prazos e das condições de pagamento. Em geral, COEs possuem prazos mais longos, variando de um a cinco anos, e a liquidação ocorre ao final do período, sem pagamentos intermediários. Algumas estruturas podem incluir limites de rentabilidade, conhecidos como “cap”, que estabelecem um teto para os ganhos, mesmo que o ativo de referência tenha uma performance superior ao esperado.
Ativos e indexadores
Os ativos e indexadores são os elementos principais que determinam a forma como o produto será remunerado e o tipo de exposição que o investidor terá no mercado. O COE combina diferentes ativos financeiros, que podem incluir ações, índices de bolsa, moedas, taxas de juros e até mesmo commodities, oferecendo ao investidor uma maneira de acessar mercados variados por meio de um único instrumento. A escolha dos ativos e indexadores no COE define o tipo de cenário econômico ao qual o investidor estará exposto, além dos riscos e potenciais de retorno associados.
Ações de grandes empresas e os índices de ações
Dentre os ativos subjacentes mais comuns em COEs estão as ações de grandes empresas e os índices de ações. Um COE pode ser vinculado ao desempenho de uma ação específica ou de um grupo de ações, geralmente de empresas de setores relevantes ou de alta liquidez. Ao investir em um COE atrelado a um índice de ações, como o S&P 500, o Nasdaq ou o Ibovespa, o investidor obtém uma exposição indireta ao mercado de ações daquele índice, o que possibilita capturar os movimentos de valorização ou desvalorização do mercado como um todo, sem precisar investir diretamente nas ações individuais.
Moedas
Outro tipo de ativo utilizado em COEs são as moedas. Um COE pode ser estruturado para capturar a valorização ou desvalorização de uma moeda em relação a outra. Esse tipo de produto é comum em cenários onde o investidor deseja exposição ao câmbio, seja para se proteger de variações cambiais ou para obter ganhos com a flutuação das taxas de câmbio. A exposição cambial permite que o COE seja uma alternativa para investidores que desejam diversificação em moeda estrangeira ou que buscam retornos baseados nas dinâmicas do mercado internacional.
Commodities
Commodities, como ouro, petróleo, prata e cobre, também podem ser utilizadas como ativos subjacentes em COEs. Esses produtos são populares em períodos de volatilidade, pois podem oferecer proteção contra a inflação ou contra movimentos de mercado que impactem negativamente outros ativos financeiros. No caso de um COE atrelado a commodities, o investidor pode lucrar com a alta dos preços desses produtos ou até mesmo obter um retorno em cenários específicos de baixa, dependendo da estrutura do COE. Isso permite que investidores interessados no mercado de commodities possam obter exposição a esses ativos de forma estruturada.
Taxas de juros
Além dos ativos, os COEs também podem ser indexados a taxas de juros, o que cria uma exposição às políticas monetárias e às expectativas do mercado em relação aos movimentos das taxas. Um COE atrelado a uma taxa de juros, como a Taxa Selic, nos casos de COEs no Brasil, ou o Fed Funds Rate, nos EUA, permite que o investidor se beneficie de variações nas taxas de juros, o que pode ser interessante em ambientes de oscilação nas políticas econômicas.
Estrutura híbrida
Os COEs também podem combinar mais de um ativo ou indexador, criando uma estrutura híbrida. Por exemplo, é possível ter um COE atrelado a um índice de ações e ao mesmo tempo a uma taxa de juros, ou ainda a uma moeda específica. Esse tipo de estrutura permite ao investidor diversificar ainda mais sua aplicação, acessando múltiplos mercados e reduzindo o risco associado a um único ativo. Contudo, é necessário entender como cada um dos ativos e indexadores interage dentro do produto, pois o retorno final dependerá da performance combinada de todos esses elementos.
Custos e taxas
Outro aspecto relevante na rentabilidade dos COEs é a incidência de taxas e impostos. Como se trata de um produto financeiro, o COE pode estar sujeito a taxas de administração e performance cobradas pela instituição emissora, o que pode impactar o rendimento final. Além disso, há a incidência do Imposto de Renda, que é cobrado com base no ganho de capital e segue a tabela regressiva, similar à tributação aplicada a outros produtos de renda fixa.
Risco
Além dos riscos já mencionados relacionados ao tipo de COE investido,outro fator relevante é o risco de crédito. Se a instituição financeira responsável pela emissão do COE enfrentar problemas financeiros ou insolvência, o investidor pode ter dificuldades para recuperar o valor investido. Por isso, é importante que o investidor verifique a reputação e a classificação de crédito da instituição antes de optar por um COE.
Liquidez
A liquidez dos COEs é, em geral, limitada. Isso significa que o investidor deve estar preparado para manter o investimento até o final do prazo estipulado, já que a possibilidade de resgate antecipado é rara e, quando existe, pode envolver penalidades ou perdas de parte do rendimento acumulado. Assim, para quem busca liquidez ou flexibilidade para resgatar recursos a qualquer momento, o COE pode não ser a opção mais adequada.
Em algumas situações, a instituição emissora do COE oferece um mercado secundário, onde o investidor pode vender seu certificado antes do vencimento. No entanto, a liquidez nesse mercado não é garantida, e o valor de venda pode ser inferior ao valor investido inicialmente, especialmente se as condições de mercado forem desfavoráveis. A venda antecipada no mercado secundário depende da existência de outros investidores interessados e das condições dos ativos subjacentes, o que pode resultar em um deságio sobre o valor de face do COE.
Vantagens de se investir em COE
Acesso a mercados
Uma das vantagens do COE é a possibilidade de acessar mercados internacionais ou setores específicos que, individualmente, exigiriam um nível elevado de conhecimento e custo para investir.
A instituição que emite o COE realiza a gestão dos ativos vinculados, definindo as estratégias que irão compor o produto. O investidor, por sua vez, adquire o COE e apenas acompanha seu desempenho, sem necessidade de gerenciar diretamente a carteira.
Diversificação
O COE é um produto estruturado que combina diferentes ativos, como ações, moedas, commodities e índices de mercado.
Isso permite que o investidor acesse mercados variados e invista em ativos que, muitas vezes, não estariam disponíveis para uma pessoa física de maneira direta. Assim, o COE oferece uma forma de diversificação que pode equilibrar riscos e oferecer exposição a diferentes setores e economias, sem a necessidade de um portfólio amplo e complexo.
Perfil de risco
Outro benefício dos COEs é a flexibilidade quanto ao perfil de risco. Existem COEs com capital protegido, onde o investidor garante a devolução do valor principal no vencimento, independentemente do desempenho dos ativos subjacentes.
Essa característica pode ser atraente para aqueles que desejam acesso ao mercado de renda variável, mas não estão dispostos a arriscar o capital investido. Os COEs com capital protegido oferecem uma alternativa interessante para quem busca algum grau de segurança com potencial de ganho limitado.
Desvantagens de se investir em COE
Baixa liquidez
A principal desvantagem dos COEs é a baixa liquidez. Em geral, o investidor precisa aguardar o vencimento do certificado para resgatar seu capital, já que o COE possui um prazo fixo.
Em algumas situações, é possível realizar a venda antecipada. Porém, isso depende da disponibilidade de um mercado secundário e da existência de outros investidores interessados, o que nem sempre ocorre. Assim, o investidor que precisa de acesso rápido ao capital pode encontrar dificuldades para resgatar seu investimento antes do prazo.
Risco de crédito
Outro aspecto negativo é o risco de crédito. Como o COE é emitido por uma instituição financeira, o investidor depende da solvência e estabilidade da instituição emissora.
Se o banco ou a corretora que emitiu o COE enfrentar dificuldades financeiras, o investidor pode perder o valor investido, pois o FGC não cobre os COEs.
Custos
Os custos envolvidos também podem ser uma desvantagem. Embora os COEs não cobrem taxas de administração diretamente do investidor, existem custos embutidos na estrutura do produto.
Esses custos, conhecidos como “taxas implícitas”, estão relacionados à montagem da operação e podem impactar o rendimento final do investimento. Por isso, é importante que o investidor entenda a estrutura de remuneração do COE antes de optar por ele. Isso porquê o retorno final pode ser menor do que o esperado devido a esses custos não explícitos.
Complexidade
Outra desvantagem dos COEs é a complexidade de alguns produtos. A combinação de ativos e indexadores, assim como as condições para retorno e o prazo, pode dificultar a compreensão completa do investimento.
Para investidores iniciantes, essa estrutura complexa pode ser confusa. Por isso, é importante que o investidor estude detalhadamente o produto e busque orientação profissional antes de aplicar em COEs mais sofisticados.
Ganho limitado
Por fim, é importante considerar que, apesar do potencial de retorno, os COEs muitas vezes apresentam um ganho limitado, especialmente nos produtos com capital protegido.
Uma parte do investimento destina-se a garantir a devolução do valor principal, o que limita o montante que alguém pode direcionar ao rendimento.
Dessa forma, embora o COE ofereça uma exposição controlada ao risco, ele também pode limitar o potencial de lucro.
Para quem é indicado?
O COE atende investidores que buscam diversificação e estão dispostos a atrelarem uma parte de sua carteira a uma estratégia específica.
Devido à complexidade e aos riscos envolvidos, é uma opção que pode não ser adequada para todos os perfis de investidor. Especialmente para aqueles que preferem produtos de renda fixa com liquidez e previsibilidade.
Como o COE possui prazo e muitas vezes não permite resgate antecipado, é importante estar confortável em manter o valor investido até o vencimento.
Conclusão
Investir em COEs pode ser interessante para quem busca diversificação e acesso a diferentes mercados. Essa flexibilidade permite que o investidor alinhe o COE ao seu perfil, aproveitando a exposição a ativos que talvez não estivessem acessíveis de outra forma.
Por outro lado, é importante considerar os riscos associados, como a baixa liquidez e a dependência da instituição emissora, que não possui garantia do FGC. Além disso, os custos e a complexidade pode impactar o retorno final, o que exige um entendimento aprofundado do produto antes da aplicação.
Assim, a decisão de investir em COEs se baseia em uma análise dos objetivos pessoais, da tolerância a riscos e do planejamento financeiro. Esse tipo de investimento pode agregar valor ao portfólio, mas é essencial estar ciente de suas características para avaliar se vale a pena.