O termo skin in the game ganhou destaque no universo dos investimentos por sintetizar um princípio direto: quem toma decisões financeiras importantes deve estar pessoalmente exposto aos seus resultados. Ou seja, deve arriscar seu próprio dinheiro.
Popularizado por Nassim Taleb, o conceito representa mais do que um compromisso financeiro. Ele simboliza responsabilidade, coerência e alinhamento de interesses entre quem propõe algo e quem será impactado por isso.
Neste artigo, você vai entender o que é skin in the game, suas vantagens, riscos, exemplos e como aplicar esse princípio na prática.
O que é skin in the game?
O termo foi popularizado pelo autor Nassim Taleb, em seu livro, se referindo à ideia de que as pessoas devem ter uma participação pessoal e financeira em uma situação para entenderem e assumirem responsabilidade por ela.
Olha só alguns detalhes sobre o livro:
Nos investimentos, esse conceito ganhou uma dimensão especial. Não se trata apenas de colocar dinheiro em um ativo e esperar retorno, mas de estar pessoalmente envolvido no processo de tomada de decisões.
Ter skin in the game implica em ter algo a perder – e a ganhar – com as escolhas feitas. Isso pode ser observado em várias situações, desde investidores que aplicam seu próprio capital em suas estratégias até gestores de fundos que recebem uma parte de seus rendimentos como resultado do desempenho do fundo que administram.

A importância de se ter skin in the game
O conceito de skin in the game é relevante especialmente quando consideramos o cenário atual de influenciadores digitais que oferecem dicas de investimento.
Com o crescimento das mídias sociais ficou cada vez mais comum encontrarmos pessoas que se apresentam como especialistas, oferecendo recomendações sobre onde investir. No entanto, o que os investidores devem considerar é se esses influenciadores realmente têm skin in the game – ou seja, se estão investindo seu próprio dinheiro nas oportunidades que recomendam.
Afinal, investidores estão cada vez mais atentos não apenas à qualidade das informações oferecidas, mas também à sinceridade e transparência dos influenciadores em relação aos seus próprios investimentos. Essa transparência cria uma relação mais autêntica e confiável, onde os investidores se sentem mais confortáveis em seguir os conselhos oferecidos.
Além disso, influenciadores financeiros com skin in the game geralmente tendem a fornecer análises e recomendações de qualidade, já que tem um incentivo direto para conduzir uma avaliação mais rigorosa dos riscos e oportunidades de investimento antes de compartilhá-los com seu público. Isso contrasta com influenciadores que podem estar mais preocupados em promover determinados produtos ou serviços sem considerar os interesses e objetivos dos investidores.
Quem usa skin in the game?
Investidores profissionais
Investidores profissionais costumam adotar o princípio de skin in the game como uma forma de alinhar seus interesses aos dos demais participantes do mercado. Fundadores de fundos de investimento, por exemplo, frequentemente aplicam recursos próprios nos produtos que gerenciam. Essa prática reforça o compromisso com os resultados e transmite uma mensagem clara aos cotistas: o gestor está exposto aos mesmos riscos que os investidores externos.
Além disso, investidores-anjo e participantes de rodadas de capital em startups também costumam manter parte significativa do próprio patrimônio investido nos negócios que apoiam. Nesse caso, o skin in the game serve como um indicativo de confiança nas projeções e na capacidade da empresa de executar seu plano de crescimento.
Empreendedores e fundadores
Empreendedores que lideram startups ou empresas de pequeno porte frequentemente representam um exemplo direto de skin in the game.
Ao comprometerem tempo, capital próprio e reputação no negócio que criaram, esses fundadores demonstram confiança no projeto e assumem os riscos do seu desempenho. Esse envolvimento costuma ser bem-visto por investidores externos, que tendem a considerar o comprometimento pessoal como um fator de segurança.
Em rodadas de investimento, é comum que investidores negociem cláusulas que mantenham os fundadores financeiramente envolvidos com a empresa. A saída total de um sócio fundador, por exemplo, pode gerar desconfiança sobre o futuro da companhia.
Executivos e gestores
Algumas empresas adotam políticas que exigem que executivos e altos gestores tenham parte de sua remuneração atrelada ao desempenho da empresa. Isso pode incluir ações, bônus por metas atingidas ou planos de participação nos lucros. O objetivo é alinhar os interesses dos gestores com os objetivos estratégicos da organização.
Em companhias de capital aberto, esse tipo de vínculo costuma ser acompanhado de forma mais transparente, por meio dos relatórios anuais e comunicados ao mercado. Investidores utilizam essas informações para avaliar se os líderes da empresa têm incentivos financeiros alinhados com os resultados de longo prazo.
Skin in the game e governança corporativa
Alinhamento de interesses
A relação entre skin in the game e governança corporativa está ligada ao alinhamento de interesses entre gestores, conselheiros, sócios e demais partes envolvidas na operação de uma empresa. Quando membros da alta gestão ou do conselho possuem participação acionária relevante ou parte de sua remuneração atrelada ao desempenho da empresa, os incentivos passam a refletir os mesmos objetivos buscados pelos acionistas. Isso reduz o risco de decisões tomadas com base em benefícios pessoais de curto prazo.
O alinhamento de interesses contribui para práticas de gestão mais coerentes com a estratégia de longo prazo, pois a exposição direta ao risco impõe maior responsabilidade sobre as ações adotadas. Essa prática também pode funcionar como um fator de controle informal, complementando mecanismos formais de governança.

Comprometimento com os resultados
O conceito de skin in the game implica que quem toma decisões relevantes assume parte do risco dessas escolhas. Em estruturas de governança, isso se manifesta por meio da exigência de que determinados executivos ou membros do conselho detenham ações da companhia ou mantenham uma parte da remuneração vinculada à performance.
Esse tipo de comprometimento tem impacto direto na forma como a empresa é conduzida. A tendência é que os gestores busquem proteger a sustentabilidade financeira do negócio, evitem decisões com potencial de prejudicar os resultados futuros e considerem os efeitos de suas ações para todos os envolvidos no processo.
Transparência e prestação de contas
A presença de skin in the game também influencia a transparência das práticas adotadas pela companhia. Quando há exposição direta ao risco, os próprios agentes de decisão passam a ter maior interesse na clareza das informações e na qualidade dos dados utilizados para guiar a operação. Isso se reflete na forma como os relatórios são produzidos, nos critérios de auditoria e na divulgação de fatos relevantes ao mercado.
A prestação de contas ganha outra dimensão quando os responsáveis também são impactados financeiramente pelos resultados. O incentivo para reportar dados de forma precisa e manter a consistência na comunicação com investidores e demais stakeholders tende a aumentar.
Limites e cuidados necessários
Apesar dos efeitos positivos do skin in the game sobre a governança, a prática requer alguns cuidados. Participações elevadas por parte de indivíduos com poder de decisão podem concentrar influência excessiva e reduzir a diversidade de visões no processo de gestão.
Além disso, nem todo tipo de exposição financeira garante condutas adequadas. Há casos em que a pressão por resultados pode levar a decisões que priorizam ganhos imediatos, com efeitos negativos no longo prazo.
Por isso, a presença de skin in the game deve ser considerada dentro de um conjunto mais amplo de práticas de governança, que envolvem regras claras, estruturas de controle, auditoria independente e mecanismos de responsabilização. A exposição ao risco pode complementar essas estruturas, mas não substituí-las.
Vantagens e desvantagens de se ter skin in the game
Vantagens
Alinhamento de interesses
Uma das principais vantagens de ter skin in the game é o alinhamento de interesses. Quando um investidor, gestor ou executivo tem recursos próprios comprometidos em um projeto, ele tende a tomar decisões mais cuidadosas e responsáveis.
A ideia é que quem compartilha o risco com outros participantes esteja mais motivado a buscar o sucesso da iniciativa, pois seus próprios recursos estão em jogo.
Isso pode resultar em uma gestão mais eficiente e em escolhas que visem o benefício de todos os envolvidos, e não apenas de uma parte.
Transparência
Outro benefício importante é a transparência. Quando alguém coloca seu próprio dinheiro ou recursos em um projeto, isso muitas vezes sinaliza para outras partes interessadas, como investidores ou clientes, que a pessoa acredita de forma genuína no sucesso do projeto.
Isso pode aumentar a confiança em relação à proposta e facilitar a atração de mais recursos ou apoio. A presença de skin in the game, portanto, pode ser vista como uma forma de demonstrar comprometimento e confiança na viabilidade do projeto.
Desvantagens
Risco elevado
No entanto, ter skin in the game não é isento de desvantagens. A principal delas está relacionada ao risco elevado.
Quando alguém coloca recursos próprios em um investimento, assume que seu sucesso ou fracasso terá impacto direto em suas finanças pessoais.
Esse risco pode levar a decisões impulsivas ou excessivamente conservadoras, dependendo da forma como o indivíduo lida com a pressão de proteger seus próprios recursos.
O risco financeiro envolvido pode, portanto, distorcer o processo de tomada de decisões.
Autocentramento
Outra desvantagem é que, ao colocar recursos próprios em um investimento, um indivíduo pode ficar excessivamente focado nas suas próprias perspectivas e preocupações financeiras, perdendo a objetividade necessária para avaliar o projeto de forma imparcial.
Isso pode levar a uma visão enviesada, onde as decisões são tomadas com base em um desejo pessoal de evitar perdas, em vez de avaliar os melhores interesses do projeto como um todo.
O viés emocional e a necessidade de proteger o próprio capital podem levar a escolhas menos racionais.
Pressão excessiva
Além disso, em alguns casos, a presença de skin in the game pode criar uma pressão psicológica excessiva.
Para aqueles que têm um grande montante de seus próprios recursos investidos, o medo de perder o dinheiro pode desencadear um estresse significativo, afetando negativamente sua capacidade de tomar decisões ponderadas.
Esse tipo de pressão pode ser especialmente prejudicial em mercados voláteis onde as flutuações do mercado podem ser imprevisíveis e rápidas.
Insegurança
Por fim, em situações onde a quantidade de recursos envolvidos é desproporcional em relação aos objetivos ou capacidades do investidor, a prática de ter skin in the game pode gerar uma sensação de insegurança.
Isso pode afetar a confiança de outros investidores ou stakeholders, que podem se perguntar se o indivíduo está colocando recursos demais em um projeto, em detrimento de sua própria estabilidade financeira.
Esse cenário pode reduzir a disposição de outras partes em se engajar, caso percebam que a pessoa está tomando um risco excessivo.
Riscos e dificuldades do “skin in the game”
Embora o princípio de “skin in the game” apresente vantagens evidentes, ele também envolve riscos relevantes e obstáculos significativos.
Um dos principais problemas é a possibilidade de enfrentar perdas financeiras. Ao adotar essa abordagem, você aceita a chance de perder dinheiro caso algo não saia conforme o planejado, o que pode resultar em prejuízos consideráveis.
Outro ponto a ser considerado é a tendência a uma aversão exagerada ao risco. Em alguns casos, o receio de perder o que já foi investido pode fazer com que as pessoas rejeitem oportunidades que, apesar de arriscadas, poderiam ser muito vantajosas.
Esse comportamento conservador pode, eventualmente, restringir o crescimento.
Há também a questão do acesso limitado. Nem todas as pessoas possuem condições de participar dessa dinâmica, especialmente em situações financeiras, o que pode gerar desigualdade na possibilidade de aproveitamento de certas oportunidades.
Além desses aspectos, o viés de confirmação é uma dificuldade psicológica associada ao “skin in the game”.
Esse fenômeno ocorre quando alguém busca apenas informações que reforcem suas decisões anteriores, ignorando dados contrários ou alternativas diferentes, o que compromete a qualidade da tomada de decisões.
Dessa forma, apesar dos benefícios do conceito, é essencial estar ciente dos riscos e barreiras envolvidos e saber como lidar com eles.
Como adotar o skin in the game na prática?
Antes de realizar um investimento, é importante considerar uma série de informações disponíveis sobre o negócio em questão. Um dos aspectos a se ponderar é se os gestores possuem ações, pois um indicador confiável da solidez de um negócio é se as pessoas que trabalham nele têm confiança.
Nassim estrutura seu argumento em quatro pilares: confiabilidade do conhecimento, que envolve discernir o que é genuíno e o que é superficial, simetria da vida, que implica em assumir riscos para colher recompensas, compartilhamento de informações e racionalidade.
Portanto, o conceito de skin in the game é aplicável tanto aos gestores, quanto aos investidores, que podem seguir esses critérios para avaliar riscos.
Conclusão
O conceito de skin in the game se tornou um importante critério de confiança e responsabilidade no mercado financeiro.
Ao alinhar riscos e recompensas entre investidores e gestores, esse princípio incentiva decisões mais conscientes e transparentes.
Para quem deseja investir com mais segurança e clareza, entender quem realmente está exposto às consequências de suas recomendações pode fazer toda a diferença.
